D25-5_ED01_ALEKSANDER
O Mito e a Filosofia
Zeus - Rei dos deuses na mitologia
grega
Considerados há muito tempo como antagônicos, mito e
filosofia protagonizam atualmente uma (re)conciliação. Desde os primórdios, a
Filosofia, busca do saber, é entendida como um discurso racional que surgiu
para se contrapor ao modelo mítico desenvolvido na Grécia Antiga e que serviu
como base de sua Paideia (educação). A palavra mito é grega e significa contar,
narrar algo para alguém que reconhece o proferidor do discurso como autoridade
sobre aquilo que foi dito.
Assim, Homero (Íliada e Odisseia) e Hesíodo (Teogonia e Dos
trabalhos e dos Dias) são considerados os educadores da Hélade (como se chamava
a Grécia) por excelência, bem como os rapsodos (uma espécie de ator, cantor,
recitador) eram tidos como portadores de uma verdade fundamental sobre a origem
do universo, das leis etc., por reproduzirem as narrativas contidas nas obras
daqueles autores.
Foi somente a partir de determinadas condições (navegações,
uso e invenção do calendário e da moeda, a criação da democracia que
preconizava o uso da palavra, bem como a publicidade das leis etc.) que o
modelo mítico foi sendo questionado e substituído por uma forma de pensar que
exigia outros critérios para a confecção de argumentos. Surge a Filosofia como
busca de um conhecimento racional, sistemático e com validade universal.
De Aristóteles a Descartes, a Filosofia ganhou uma
conotação de ciência, de conhecimento seguro, infalível e essa noção perdurou
até o século XIX, quando as bases do que chamamos Razão sofreu duras críticas
com o desenvolvimento da técnica e do sistema capitalista de produção. A crença
no domínio da natureza, da exploração do trabalho, bem como a descoberta do
inconsciente como o grande motivador das ações humanas, evidenciaram o declínio
de uma sociedade armamentista, excludente e sugadora desenfreada dos recursos
naturais. A tendência racionalista fica, então, abalada e uma nova abordagem do
mundo faz-se necessária.
O que era tido antes como pré-cientifico, primitivo, assistemático,
ganha especial papel na formação das culturas. As noções de civilização,
progresso e desenvolvimento vão sendo substituídas lentamente pela diversidade
cultural, já que aquelas não mais se justificam. A releitura de um dos
pensadores tidos como fundadores do idealismo racionalista preconiza que já na
Grécia o mito não foi meramente substituído nem de forma radical, nem gradual
pelo pensamento filosófico. Os textos de Platão, analisados não somente pela
ótica conceitual, mas também dramática, nos proporciona compreender que um
certo uso do mito é necessário onde o lógos (discurso, razão, palavra) não
consegue atingir ainda seu objeto, ou seja, aquilo que era apenas fantasioso,
imaginário, ganha destaque por seu valor prático na formação do homem.
Dito de outro modo, embora o homem deseje conhecer a fundo
o mundo em que vive, ele sempre dependerá do aperfeiçoamento de métodos e
técnicas de interpretação. A ciência é realmente um saber, mas que também é
histórico e sua validade prática depende de como foi construído
argumentativamente. Interessa perceber que Filosofia é amor ao saber, busca do
conhecimento e nunca posse, como define Platão. Então, nunca devemos
confundi-la com ciência, que é a posse de um saber construído historicamente,
isto é, determinado pelas condições do seu tempo. Portanto, Mito, Filosofia e
Ciência possuem entre si não uma relação de exclusão ou gradação, mas sim de
intercomplementaridade, haja vista que um sempre sucede ao outro de forma
cíclica no decorrer do tempo.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela
Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
É interessante como os mitos a partir de metáforas traduzem e reproduzem os valores sociais, estabelecendo códigos e padrões culturais, definindo implicitamente, o modo como as pessoas compreendem o universo de distintos fenômenos. E ao mesmo tempo sua interpretação é polissêmica, podendo ter vários significados e interpretações.
ResponderExcluirEli Serafim
Percebemos também que os mitos agrega valores culturais as sociedades.
ResponderExcluirA narrativa mítica mesmo sendo ilusória, inverossímel ou estranha para muitas pessoas, serve muitas vezes para explicar a realidade. Nem sempre o filósofo é compreendido mas isto faz parte de sua trajetória rumo ao conhecimento. Abraço!
ResponderExcluir